“Quem ama exerce Deus” é uma frase tocante do nosso grande poeta e autor matogrossense Manoel de Barros. Profunda, esta frase me chamou a atenção desde a primeira vez que a ouvi, porém somente este ano ela tornou-se tão essencial para minha definição de objetivo de vida!

Eu não tenho a pretensão de provar que estou certa, nem de medir o quanto me entrego em minhas relações, não mais! Porque percebo famílias se separando, se desfazendo, se dilacerando em torno do ego. Pessoas que passaram por uma vida juntas e que de repente tornam-se estranhos um para outro. Tudo porque pensam diferente, tudo porque precisam impor-se, tudo porque gostariam que as coisas seguissem o “planejado”…

Quem ama exerce DEUS, quem ama abre mão, quem ama escuta, quem ama se entrega… Quando eu era pequena e brigava com meu irmão, brigas bobas de criança mesmo, minha mãe dizia: “Parem com isso! Tratem-se como estranhos!!! Porque com os estranhos sempre falamos baixo, pedimos licença, por favor, dizemos obrigado…” Hoje eu entendo bem o que ela queria dizer! Eu e meu irmão continuamos discordando, porém não brigamos mais. 

Ele é meu irmão, meu sangue e eu o amo com todas as nossas diferenças… É assim que eu desejo viver! Eu não quero mais expressar minha opinião com veemência, com o grito da força que a necessidade do meu ego pede. Porque o maior defeito do ser humano, é o de suprir sua necessidade em estar certo, em determinar quais atitudes são as mais corretas, que parâmetros serão aceitos.

Pois é Natal e muitos telefonemas não serão dados, muitos abraços não acontecerão, muitos encontros permanecerão desfalcados… Porque um queria peru e o outro tender, porque a mesa tinha que ser na varanda e o outro pensa que na sala seria melhor, porque aquele tio que bebeu demais no ano passado falou umas “verdades”, porque a sobrinha foi insolente com a tia, porque um é vasco o outro é flamengo, porque ele é de direita e a cunhada é de esquerda, porque o outro não telefonou…

Quanto esforço em dificultar as coisas, quanto esforço em urrar suas decepções e impor suas vontades… Porque ele me convidou por convidar, porque ela me falou coisas atravessadas… Afffff!!! Como eu me canso de brigas, de barracos, de estardalhaços… 

Quem ama exerce DEUS e eu tenho certeza que DEUS não grita! É Natal, e eu gostaria que meus dois avôs e minhas duas avós estivessem aqui. Minha bisavó, rainha da família, também, quanta saudade! Pois hoje eu só tenho a minha avó Lourdes, é o único abraço de vó que eu tenho, e ele é precioso para mim… Eu exerço DEUS quando ajudo a minha avó a se sentar, quando como peru porque ela queria assim…

Quem ama exerce DEUS, abaixa a cabeça, fecha a boca, abre os braços… Quem ama agradece o Natal com oração, carinho e entrega… Eu amo, e desejo a vocês um lindo Natal, com “todo amor que houver nessa vida”, citando aí Cazuza, o meu outro poeta preferido.

Bjo bjo bjo e um FELIZ NATAL!

“A casa da saudade chama-se memória, é uma cabana pequenina em um cantinho do coração…” Eu li esta frase há alguns anos e desde então ela fez todo sentido para mim.

A saudade está lá, existe normalmente de acontecimento que não planejamos, que não construímos… Mas ela existe, é fruto de uma ausência que se faz presença dentro dos nossos corações.

Com o passar dos anos ela não diminui, aliás, aumenta! As vezes provoca lágrimas, e por outras pequenos sorrisos, de lembranças doces que aparecem em devaneios espontâneos.

Eu sinto saudade de abraçar, de dizer oi vô! Oi Vó! Eu sinto saudade de coisas específicas, singulares… Do arroz doce, do chá mate com pão no fim da tarde, do crochê, da cadeira de balanço, do abraço geladinho da minha avó…

Eu sinto saudade da gargalhada do meu avô comerciante, de sentar na calçada no fim da tarde, dele me dizendo que eu tava muito magrinha e precisava comer um prestígio (o chocolate, mesmo!). Eu sinto saudade do sorriso do meu avô aviador, do abraço forte, das mãos grandes, da alegria que ele transmitia porque nós estávamos lá…

Eu sinto falta do piano tocando, do meu tio me ligando para treinar o inglês, das poesias, dos sonhos, da casa de paredes coloridas, dos quadros… Eu sinto saudade dos meus amigos que se foram, de nossos momentos…

A saudade é palpável, mensurável, sentida a fundo. É triste quando a saudade dói, porque a dor aperta o coração, mareja os olhos, prende a garganta. A dor de perder um pai, uma mãe… Um filho… Essa eu não tive.

Mas me emociono com ela, e sei que a compreensão dos desígnios de Deus, é essencial para que ela se torne mais branda, serena, simples sentimento de saudade.

Quem sente a dor, deseja e sonha apenas com a saudade. Eu não sei o caminho redentor que pode levar um coração aflito para esta estrada, se soubesse compartilharia aos 4 ventos.

Mas tenho certeza, que o caminho existe, que ele está dentro de cada um de nós. É preciso coragem para encontra-lo, para conseguir que as fotos permaneçam pela casa, para que as lembranças possam ser partilhadas em conversas corriqueiras, para que a ausência seja física, mas a presença seja o bálsamo oriundo de pensamentos soltos e da alegria de ter vivido cada pequeno dia com aquele que tanto amamos…

É importante amar, é importante sentir saudade, é importante lembrar, mas é preciso encontrar um caminho para continuar, com fé, coragem, alegria… É importante ir, sobretudo, em frente!