A cada dia que passa, mais eu percebo que nem tudo é tão fácil quanto parece ser! A grama do vizinho mais verde, o passaporte mais carimbado, o salário maior, e ainda por cima, divulgado em vídeo, foto, áudio… com riqueza de detalhes! Ninguém tem tempo, ninguém senta na calçada para papear, ninguém faz café com pão de queijo para saborear na varanda, convidando vizinhos passantes a se juntar.

E quando a vida propicia “momentos de verdade”, vem a surpresa de que aquela super pessoa, que de longe a gente acha que é perfeita, está sofrendo! Geralmente sofrendo calada, ou apenas a poucos amigos… Por que será? Porque é tão difícil compartilhar as emoções nuas, sem os adornos sociais, responsáveis por nossas abundantes graminhas verdes?!

Talvez seja porque ninguém quer de fato saber! Ou porque nossas angústias se pareçam rasas, e sem razão de ser… Tudo isso junto, né?! Os mais velhos provavelmente bradarão: “Pegue uma enxada e vai carpir um quintal que passa!” Os mais jovens dirão que “a vida é curta, e a gente tem mais é que ser feliz!” Nosso consciente terá vergonha de tamanha dor… Afinal, estamos vivos, e temos obrigação de ser gratos pelo dom da vida.

A questão é que nada disso é suficiente para tirar a dor, a angústia, e o vazio, que as vezes resolvem bater a nossa porta. Aliás, arrombar! E ninguém gosta de falar sobre depressão ou crise de ansiedade, como alguns psiquiatras têm diagnosticado, mas a verdade é que todo mundo tem alguém muito próximo que já passou por isso, ou vivenciou esse martírio.

Eu tive dois episódios na vida! Simmmm, eu!!! Justo eu que sempre fui muito bem resolvida, segura, feliz, entusiasmada com a vida, sonhadora, otimista, e tudo de positivo que se pode pensar. No primeiro episódio de depressão, eu estava casada a pouco mais de 2 anos, com um filha pequena, muitas contas para pagar, e uma sobrecarga de responsabilidades que eu não estava acostumada.

Sendo bem transparente e direta, tinha vontade de morrer… É chocante de ouvir, mas a moleza, que virou tristeza, se transformou em angústia, até que um dia tomou proporções sufocantes. Foi difícil admitir, pior ainda criar coragem de pedir ajuda… Eu me esquivava das pessoas, só queria dormir, e de preferência, não acordar mais.

Pesado isso, mas real! Consegui pedir socorro aos meus pais, que são médicos, e portanto receosos quanto ao uso de medicamentos tarja preta. Indo a uma excelente psiquiatra, comecei a tomar medicação, a qual tomei durante um ano.

Que alívio! Embora eu tivesse medo de nunca mais poder parar de tomar o remédio. Questionar minha gratidão à Deus, por ser saudável, ter uma família linda, e milhões de motivos para ser plenamente feliz.

Mas o fato é que depressão é uma doença causada por princípios químicos, que sequestram nossa capacidade de discernir de fato o que realmente importa. Muitas vezes ela é desencadeada por traumas, ou grandes mudanças que acontecem em nossas vidas.

O mais complicado é aceitar, conversar com nosso círculo afetivo, procurar um médico e se tratar.

Depois de um tratamento feito com zelo e empenho, acompanhado de terapia, e de uma vontade gigante de virar o jogo, o pesadelo parece apenas um pequeno problema, que com o tempo ficará esquecido lá atras.

Meu episódio passou!!! Hoje olhando para trás, percebo que eu mesma, muitas vezes me boicotei. Demorei a admitir, a procurar ajuda, a comunicar às pessoas que amo, e cuidar de mim, como de fato mereço.

Hoje eu sei que não tem nada a ver com fraqueza, falta de fé ou ingratidão. Realmente fiz do limão uma limonada. Descobri que precisava de qualidade de vida, deixar de ser sedentária, me alimentar de forma saudável, me aproximar mais de Deus, ler, fazer caridade, ouvir o outro, doar meu tempo…

Tantas coisas pequenas, que juntas são capazes de revolucionar a nossa existência!

Lembrando que no momento em que a doença se instala, nada disso faz o menor sentido, e um médico é ferramenta essencial para o pontapé inicial rumo à cura.

A lição que fica é de que devemos nos ouvir, nos respeitar, levar uma vida mais saudável, humana e significativa. Mais importante ainda, é entender que de perto ninguém é perfeito, linear ou normal… Se é que normal existe, né?!

Se um dia se sentir perdido, saiba que as melhores pessoas já se sentiram assim! no fundo do poço tem mola, e de lá, não há mais por onde afundar… Com Fé e ação, a subida é certa!!!

Que 2017 seja um ano de mergulhos profundos, em nossa própria existência, e na existência de Deus em nossas vidas!

Bjo bjo bjo no coração.